domingo, 6 de janeiro de 2013

Teoria e Saber Teoria


Segundo Edgar Morin (2000), o conhecimento escolar é derivado do conhecimento científico, no entanto não se ensina o que é conhecimento. Confirmando isso, em artigo publicado no site da revista Scientific American Brasil chamado Teoria Científica para quê? (ZAIA, Dimas A. M. et al, 2012), acerca de pesquisa realizada junto a alunos de cursos de graduação da Universidade Estadual de Londrina/PR cujo objetivo era analisar o nível de aceitação ou rejeição de teorias diversas, encontra-se o dado curioso de que, durante a sua educação escolar, informações sobre como tais teorias são desenvolvidas, de 621 entrevistados, 30% afirmaram nunca terem recebido qualquer explicação a respeito. Essa é uma questão importante de se observar para que o ensino faça sentido para o aluno.
Apesar de passar vários anos nas escolas, ensinam-se ao alunado disciplinas que mais parecem oriundas de uma curiosidade descolada da realidade concreta de sua vida cotidiana. Isso faria conduzir a comunidade escolar inteira a equívocos graves, entre eles o de que não há qualquer falibilidade no conhecimento científico e no seu ensino, por isso, não deveria ser questionado. A partir disso, fica claro que a própria transmissão desse conhecimento, dentro dessa visão imprópria do infalível, vem a conduzir a cada vez mais erros e ilusões (Morin, 2000).
Haver esse pensamento implica em observar que o conhecimento, etimologicamente, vem de conhecer e nisso explicita-se o caráter empírico que permeia o próprio método científico. Conhecer inclui o reconhecimento de que, ao se buscar saber, o ser humano expõe-se aos riscos de pesquisar e interpretar de maneiras diversas, inclusive erradas, mas que ao se tomar consciência do que significa o saber, as chances de sucesso aumentam consideravelmente. Assim, o conhecimento é concebido como um movimento de percepção e reconstrução constantes.
Analisando-se assim, faz sentido buscar o que é conhecimento de fato, segundo uma perspectiva de relevância, ou pertinência (MORIN, 2000). Saber algo sobre alguma coisa significa possuir ciência de algo que, dentro da realidade concreta da qual se partiu para sua abordagem, é importante sobre o tema. Essa importância só pode ser admitida, como também reconhecida, se for possível por meio de um modo de conhecimento (MORIN, 2000) apreender o conhecimento como parte de um contexto e estabelecer o próprio contexto. É característico do ser humano correlacionar as partes ao todo e vice-versa a partir de elementos essenciais, assim o ensino teria como uma de suas premissas essenciais restabelecer esse atributo no que se refere ao conhecimento em seu sentido mais amplo, sobretudo em conjuntura escolar – tão fragmentada pela visão desarticulada das disciplinas como trabalhadas atualmente.
O próprio ser humano em sua condição de parte de uma natureza mais ampla – física, biológica, social, cultural, psíquica, histórica – também carece de rearticulação de si como possuidor de uma identidade complexa (MORIN, 2000) que envolve todos esses aspectos paralela e simultaneamente. Tal saber de si não pode ser sinalizado como algo externo no ensino, visto que o processo educativo necessariamente leva ao reconhecimento de si em relação a si, ao conhecimento e com o outro. Isso equivaleria a dizer que o ser humano é complexo e aprende a ser e exerce plenamente seus atributos sendo e se reconhecendo como tal em face à exposição a outros seres humanos e ao conhecimento produzido por todos.
Desdobrando esse aspecto humanizador do conhecimento, tem-se que os saberes que se adquiririam num projeto de ensino de tal característica mobilizariam também o conceito de que, ao se participar dele, evolui-se como espécie e, por conseguinte, todo o planeta. Estabelece-se, destarte, o progresso do ser como parte da espécie e membro consciente de que isso contribui com a sustentabilidade de todos os sistemas que mantém a vida na Terra. Para progredir, deve-se ter em mente que houve diferentes estágios na evolução deste astro e que cada um deles possuiu sua razão de ser produziu desenvolvimento e que, mais especificamente, o estabelecimento da humanidade com seus acertos e erros poderia – como pode – contribuir muito mais pelo bem de todos. De tal maneira, vive-se uma época em que todos têm responsabilidade nisso.
Fazer parte de um sistema tão amplo e complexo expõe a momentos em que não há controle total das situações e o imprevisto, a dúvida, a Incerteza (HEISENBERG, 1927) pode ser um elemento da vida que fomentaria possibilidades de crescimento, sobretudo no ensino. Então, ter-se-ia a partir disso que ensinar que e como isso contribuiu para a evolução das ciências, assim como do próprio ser humano, é parte fundamental do processo educativo. Esse seria um saber (MORIN, 2000) que traria uma nova consciência inclusive do progresso humano na história, preparando o alunado a enfrentar e se posicionar face a contextos os mais variados em ambientes também diversos, abandonando a zona de conforto da concepção de um mundo de obviedade tola para avançar rumo às múltiplas possibilidades de descobertas, científicas ou não. O ensino, por esse prisma, seria uma experiência a partir da qual se fomentariam mentes lúcidas, articuladas e criativas.
Outro saber sinalizado pela teoria de Morin é a compreensão. Mentes lúcidas, articuladas e criativas funcionam melhor à medida que se relacionam com a diferença. Compreender é reconhecer o outro da maneira que ele é e procurar estabelecer um vínculo de respeito e tolerância que promova o desenvolvimento de ambos. É essa percepção, sob os primas objetivos – intelectuais – ou intersubjetivos – humanos e humanizadores –, que fomenta a solidariedade não-hipócrita, i.e., verdadeira no sentido em que no ensino, por exemplo, há o reconhecimento de que o conhecimento constitui o ser humano como indivíduo em relação ao outro e como espécie, parte de um conjunto complexo, extremamente heterogêneo, por seu caráter de partilha de saberes segundo os quais se estabelecem relações tipicamente humanas.
O último saber do pensamento do intelectual francês é a antropo-ética, i.e., a ética do ser humano. Essa deve ser ensinada segundo o princípio de que a pessoa existe em três esferas distintas simultaneamente: indivíduo, sociedade e espécie (MORIN, 2000). Como indivíduo, deve-se desenvolver um comportamento que atenda a missão antropológica de agir em prol da democracia humana, do bem comum e da convivência. Assim, a antropo-ética seria, no ensino, mais que um saber último, mas elemento civilizador de toda a comunidade escolar.
Da conjugação de todos esses saberes em uma estratégia de ensino articulada é que, então, ter-se-ia um alunado com competências e habilidades adequadas para o desempenho da cidadania no mundo atual. Uma prática docente que se imagina transdisciplinar precisa cumprir com esses objetivos, mas também se valer de uma dialogia própria para que seja efetiva. Na área de Linguagens, entre suas teorias basilares, tem-se na Análise Dialógica do Discurso elementos que justificam esse pensamento e valendo, assim, colocá-los dentro dessa perspectiva teórica.
Assim penso.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Olá a todos!
Dialogar: eis o passo fundamental que nos leva ao conhecimento. Diante dessa perspectiva, este blog pretende ser um espaço aberto para discussões relevantes a respeito do conhecimento humano. De fato, e por definição já expressa, não se deve conceber um único ponto de vista dele, ainda mais num início de século tão promissor para diversas áreas do saber. Por isso o nome: Diálogo e Conhecimento.
Assim, dialogando, pretendemos contribuir significativamente com os avanços da comunidade científica e abrir caminhos para que mais pesquisadores possam expor suas ideias e saltar de uma micro para uma macrovisão da Ciência.
Ademais, iniciamos em breve.
Um grande abraço,
Os autores